O cara do chinelo e meia - Nilo Silva
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O cara do chinelo e meia

Era final de julho, em um dia frio. Eu estava na minha loja, trabalhando, como na maior parte do tempo, em frente ao computador: escrevendo textos como este, estudando, assistindo a podcasts, etc.

Entrou um cliente de chinelo e meia. Ele usava um moletom preto, uma bermuda cinza e, como dito, estava de chinelo e meia. Isso chamou minha atenção, uma vez que não é algo que a maioria das pessoas costuma fazer; geralmente, esse tipo de combinação é considerada brega e só é usada dentro de casa. Assim que ele entrou na loja, minha mente fez um julgamento rápido sobre o que havia visto.

O Julgamento Involuntário

Era nítido que ele não estava nem um pouco preocupado com a opinião dos outros e, inclusive, parecia estar bem confortável. Era um homem de trinta e poucos anos, educado, que comprou algumas coisas, conversou um pouco e foi embora.

Como mencionei, minha mente fez um julgamento extremamente rápido, ainda que de forma involuntária, como se aquele comportamento fosse inapropriado ou fora do padrão. Não estou falando de certo ou errado, já que não fere nenhuma lei, não faz mal a ninguém e, portanto, não seria problema. Refiro-me aos padrões que, consciente ou inconscientemente, acabam entrando em nossas mentes e moldando parcialmente nossa vida.

O Padrão da Criança Livre

A questão aqui não é o chinelo com meia. Talvez você não se importe com isso. Talvez você ache ridículo. Talvez você não saia de casa assim. Talvez você me ache um babaca por ter reparado em algo que não me diz respeito. Posso dizer que é apenas uma opinião, uma forma de fazer um julgamento diante de uma situação como essa.

Na psicologia, existe uma abordagem chamada Análise Transacional. Criada pelo psiquiatra Eric Berne, seu objetivo principal é compreender como cada indivíduo funciona, de acordo com suas emoções, pensamentos e percepções. Berne divide a estrutura da personalidade em três estados de ego, sendo um deles o ego criança, que por sua vez é dividido em livre e adaptada.

Sem delongas e indo direto ao ponto, a criança livre é a parte mais pura, espontânea, alegre e criativa de nós. Não se trata de transgredir regras, mas de viver de um jeito mais leve e solto, mais ou menos como “não importa o que vão pensar”.

Esse cara do chinelo e meia estava fazendo exatamente isso, entregando-se ao que era bom para ele e sem se preocupar com os outros. É como uma criança faz: se está com fome, pede; se quer ir embora, simplesmente diz que quer ir para casa. Quando está em um parquinho, brinca com as outras crianças sem se preocupar com quem elas são, qual a condição social ou outra característica que possa diferenciá-la socialmente. Ela se entrega ao que quer, vivendo aquele momento que é somente dela.

Como dito, não se trata de transgredir regras, mas de viver o momento, entregando-se ao que te dá prazer, sem criar projeções sobre o que os outros vão pensar.

Reflexões Sobre a Criança Livre

Já me vi em diversas ocasiões deixando de viver minha criança livre, o que pode ter me impedido de conquistar outras coisas. Isso acontece devido a outros estágios do nosso ego, que muitas vezes colocam empecilhos desnecessários e evitam que demos um passo em determinada direção.

É fácil afirmar que precisamos ter equilíbrio na vida; chega a ser óbvio. Mas também é óbvio que, em alguns momentos, precisamos pender para um lado ou para o outro, fazendo escolhas que naturalmente terão consequências.

Quando você se deparar com alguém e instintivamente fizer um julgamento, como eu fiz com o cara do chinelo, saiba que, às vezes, aquela pessoa está apenas vivendo um momento que você não viveu por se prender a coisas desnecessárias. Além disso, no final das contas, a vida dos outros não te interessa e você não precisa perder tempo com isso. Lembre-se de se entregar à sua criança livre de vez em quando. Às vezes, precisamos ser apenas como o cara do chinelo e meia.

Nilo Silva
Nilo Silva
Empresário, palestrante, criador de conteúdo, e escritor do livro QAP Total - Pronto para o sucesso.

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