Eu tinha 18 anos e acabado de tirar minha carteira de habilitação. Lembro-me de estar no processo de alistamento militar e ainda não sabia o que queria da vida. Tinha energia de sobra, mas estava perdido em relação ao “o que ser quando crescer”. Estamos falando do ano de 1996, quando a novela Malhação ainda estava na primeira temporada. Eu adorava aquele programa, que me fazia lembrar de uma série americana que passava na Globo, chamada Barrados no Baile. Naquela época, eu ainda podia assistir televisão à tarde. Assim como Malhação, Barrados no Baile era um drama adolescente com personagens entre o ensino médio e a vida adulta.
Não havia celular e o merthiolate ainda ardia. A banda “É o Tchan” acabara de lançar a música “Dança da Bundinha”, e várias outras coisas daquela época me fazem lembrar de um período que não volta mais.
Foi quando consegui meu primeiro emprego. Embora não fosse um trabalho formal com carteira assinada, foi a minha primeira ocupação séria, com obrigações a cumprir e pagamento semanal. Toda sexta-feira eu recebia um dinheirinho e ficava todo eufórico por me sentir recompensado.
Um vizinho, que havia se aposentado recentemente, fazia biscoito de polvilho, o famoso “totó”. Talvez tenha outros nomes, mas eu conheço assim. Ele tinha um vendedor que visitava principalmente pequenas mercearias de bairro. Muitas dessas mercearias ainda eram em ruas de terra e tinham aquele modelo antigo, onde os pacotes ficavam pendurados com pregadores em um varal improvisado. Algumas tinham vitrines onde eram vendidos torresmos mergulhados no óleo, geralmente consumidos com uma pinguinha.
Esse vendedor era de uma cidade vizinha e vinha de bicicleta até a casa do meu vizinho para começar a trabalhar fazendo as vendas. Como ele não tinha habilitação, eu era o motorista. Meu vizinho comprou um Fiat 147 azul claro, que carinhosamente chamávamos de “Trovão Azul”. Eu, o vendedor e o Trovão Azul saíamos por aí oferecendo o totó em todo tipo de lugar, geralmente em pequenos comércios, nas “vendas” como descrevi.
Em alguns bairros, também vendíamos para donas de casa. Não havia essa distinção entre pessoa física e jurídica. Se a dona Maria quisesse comprar, ela teria o seu totó, além de outros produtos que foram incluídos depois, como bolos e coisas do tipo. Embora eu fosse o motorista e não interferisse nas vendas em si, estava ali acompanhando tudo e dando um palpite de vez em quando.
Eu usava um boné da Planet Hollywood. O jogador Ronaldinho também usava um semelhante, e talvez seja por isso que eu gostava. Era um boné prata com a aba preta. As vendas eram feitas somente durante o dia, e duas vezes por semana eu frequentava um curso de informática à noite. Naquela época, os cursos de informática estavam em alta. A gente até colocava no currículo. Quem não sabia mexer com computador tinha dificuldade para conseguir um emprego.
Não me recordo exatamente o tempo que durou esse trabalho, mas sei que foram alguns meses. O negócio acabou se desfazendo, o Trovão Azul foi vendido e tudo voltou ao que era antes. De qualquer maneira, esse trabalho me fez enxergar o valor da responsabilidade e entender que eu seria recompensado por algo que executasse. Ou seja, eu precisava fazer por merecer.
Embora trabalhasse diretamente com apenas uma pessoa, outras estavam envolvidas em todo o processo, desde a fabricação do produto até a venda em si. Aprendi que precisava ter espírito de equipe, pois cada um tinha seu valor e importância. Eu era o motorista e, sem mim, não teria como fazer as entregas. O vendedor era o responsável por conversar, oferecer e captar o dinheiro. Quem fabricava era tão importante quanto nós, pois sem os produtos nada aconteceria.
Por lidar com muitos clientes diferentes, pude aprender que cada ser humano é único, mesmo que possa parecer com outros em certos aspectos. Cada um precisa ser ouvido de maneira diferente. É preciso entender suas dores e desejos de forma particular. Eu não vendia, mas percebia que o vendedor tinha um certo conhecimento nisso, atendendo cada um de forma diferenciada. Foram tempos únicos e com aprendizados que carrego até hoje, e sou extremamente grato a essa oportunidade que certamente contribuiu para o ser humano e profissional que me tornei.
Para explorar mais conteúdos como este, visite meu blog.
10 Comments
Parabéns, vc começou cedo. Aprendeu o valor do serviço. Vc é um vencedor.
Valeu meu amigo
Kkkk me lembro dessa época, a época do Trovão Azul!
Bons tempos que ajudaram a formar seu caráter!
Muito bom ter vivido isso com vc e seus família maravilhosa!
Exatamente. O Trovão Azul kkkkk
Éramos bem próximos nessa época mesmo. Jovens, com poucas responsabilidades, sem contas pra pagar. Tempo bom rss
NOSSA QUE LEGAL, AMEI SUA TRAJETÓRIA PARABENES PELO FEITO
Obrigado Edineia. Fico feliz em saber que gostou da minha trajetória.
Gostei da sua história você é um batalhador você merece alcançar seus sonhos meus parabéns Nilo
Obrigado Rosemeire
Parabéns meu amigo que Deus te abençoe você
Obrigado meu amigo