Em 2010, recebi um convite para produzir conteúdo para uma revista. Como se tratava de uma publicação mensal, o convite era para ser colunista, escrevendo periodicamente sobre saúde. Não neguei o convite imediatamente, mas expressei minhas inseguranças sobre a escrita. Disse que não estava acostumado, achava difícil e temia que o resultado não fosse bom.
Na verdade, eu estava tentando evitar algo novo e, naturalmente, desafiador. A revista dependia de anunciantes e precisava de conteúdos variados para colocar os anúncios próximos de temas relacionados. Embora eles pudessem simplesmente usar conteúdos da Internet, ter colunistas fixos facilitava o processo e beneficiava o profissional, que ganhava destaque com uma pequena foto, nome e contato, como é comum em revistas. Era uma troca: o colunista produzia o conteúdo e, de certa forma, promovia a si mesmo.
O dono da revista, percebendo minha relutância, sugeriu que eu escrevesse sem compromisso. Se o texto ficasse bom, eu poderia continuar escrevendo conforme desejasse, sem a obrigação de contribuir todos os meses. Isso me deixou mais tranquilo, e aceitei o convite. Fui então conversar com a equipe de diagramação da revista para entender o tamanho do texto necessário, o que trouxe outro desafio.
Escrever para um blog, por exemplo, permite certa flexibilidade em relação ao número de caracteres ou linhas, mas uma revista exige um tamanho específico. Não se trata apenas de ajustar o tamanho da fonte. Eu precisava produzir um texto que se encaixasse no espaço determinado. Lembro-me de ter achado isso um pouco estranho, mas escrevi e tudo deu certo.
Acabei me tornando colunista fixo da revista por quase cinco anos, produzindo conteúdos novos praticamente todos os meses. Em algumas edições, devido à demanda constante, um ou outro conteúdo acabou sendo repetido porque eu não consegui produzir algo novo a tempo. Apesar de não ser remunerado financeiramente, eu tinha uma certa obrigação de escrever.
Hoje, nem sei quantos textos já escrevi, de tamanhos variados e espalhados por aí, além de um livro publicado e um segundo em produção. Embora não possa afirmar que escrever para a revista mudou minha vida radicalmente, certamente abriu muitas portas. Isso não teria acontecido se eu tivesse recusado o convite apenas por ser algo novo e intimidante.
O medo é normal, e o sucesso muitas vezes reside exatamente nisso. Nossa mente, para nos proteger, tenta evitar novas experiências que possam resultar em frustração. E se eu não conseguisse escrever? E se a diagramação fosse complicada? E se o conteúdo não fosse bom? E se o público não gostasse? Esses “e se” eram a mente tentando me proteger de emoções negativas que eu preferiria evitar.
Reflita sobre sua vida, especialmente o passado, e perceba quantas oportunidades você pode ter perdido simplesmente por medo de se arriscar. Isso vale para todos os aspectos da vida, tanto pessoal quanto profissional.
Naturalmente, buscamos prazer e evitamos o que pode ser ruim. Ninguém deve procurar problemas ou situações que coloquem sua segurança em risco, mas é importante buscar um certo desconforto até que se torne confortável. Se você admira alguém que se exercita diariamente, saiba que no início isso não era tão agradável quanto parece agora. Quem se graduou em uma área específica certamente enfrentou diversos desafios até alcançar o sucesso que você vê hoje.
Buscar prazer, relaxamento e momentos de aparente ociosidade também são importantes e fazem parte do processo. No entanto, se você não se expuser a um pequeno sofrimento dentro dos seus limites, sua vida pode perder o brilho e parecer sem graça.
A explicação científica e biológica envolve a dopamina, um neurotransmissor que produz motivação e prazer. Se sua vida é pautada unicamente por estímulos dopaminérgicos, pode ocorrer uma desregulação no cérebro, levando à anedonia, a perda da capacidade de sentir prazer. Isso pode resultar em problemas emocionais, como depressão.
Por isso, é às vezes necessário enfrentar desafios que você considera difíceis ou complicados. Isso não significa ter uma vida cheia de problemas, mas sim quebrar crenças limitantes, estudar mais, praticar exercícios ou qualquer outra atividade que exija esforço. Quando escrevo um texto como este, sinto-me bem devido à dopamina, mas primeiro é necessário um esforço para escrever e depois desfrutar da recompensa. Isso é muito diferente de recompensas imediatas, como o uso de drogas, que criam um vício e todos os problemas associados.
Uma alternativa é se expor a tarefas difíceis em outras áreas da vida, ajudando a regular o cérebro e a ter uma vida mais prazerosa de maneira saudável, sem recorrer a medicamentos que momentaneamente parecem resolver problemas, mas que na verdade não mudam a vida.
Sei que é fácil falar, e quando aprendi isso, pensei a mesma coisa. Não passe seus dias apenas buscando prazer comendo besteiras, assistindo a séries ou vendo pornografia. Isso torna a vida mais complicada e difícil de enfrentar os obstáculos naturais do cotidiano. Dê uma pausa, observe sua volta, analise sua vida e veja onde pode fazer mudanças com um esforço dentro dos seus limites. Seja feliz e sinta prazer, mas não viva somente para isso; caso contrário, paradoxalmente, você terá uma vida menos prazerosa e menos gratificante.